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Projeto

PORT ASIA – Escrever a Ásia em Português: mapeando arquivos literários e intelectuais em Lisboa e Macau (1820-1955) (EXPL/LLT-LES/1191/2021) pretende mapear 5 bibliotecas de Lisboa e de Macau de modo a identificar livros e documentos em português (PT) de autores asiáticos. O conjunto de impressos, manuscritos e datiloscritos será apresentado ao leitor/usuário através de um catálogo em livro. Junto com um sítio online de acesso livre, tornarão clara a existência desses materiais e autores como um novo corpus para estudo e análise. A equipa trabalha com a hipótese de uma escrita asiática em língua PT que precisa de ser identificada e divulgada. Pretende dar provas efetivas de que ela existe, desde 1820 até 1955, num período que vai desde o crescimento da imprensa nas colónias lusas até à Conferência de Bandung.

O critério para a escolha destes autores é o da forte conexão, biográfica ou outra, aos seguintes territórios: Moçambique, Malaca, Goa, Macau e Timor. Não se trata de uma seleção étnica ou nacional, porque os autores têm origens plurais: naturais, luso-descendentes ou membros de comunidades crioulas, apesar de todos poderem ser considerados asiáticos. Esta produção encontra-se não só na Ásia mas também nas instituições da capital, na ex-metrópole. A equipa também fará investigação em duas bibliotecas de Macau de modo a construir redes de investigação que não se cinjam a Portugal. Ao serem tomados em conjunto, os acervos destas diversas instituições, junto com o amplo escopo temporal e espacial, permitirão a recolha bem-sucedida de um corpus significativo de textos.

Trata-se de construir um arquivo dentro dos arquivos, pois estes livros e documentos são marcadamente marginais, quer no contexto dos arquivos portugueses, quer no da Ásia, quer ainda no do império PT. Encaramos o arquivo como uma metáfora destas tradições de escrita, mas também como a única forma de acesso à escrita asiática em PT, conceito até agora inexplorado. Essa escrita precisa antes de mais de ser reconstituída a partir dos seus próprios materiais, constantes em arquivos.

A nossa abordagem baseia-se no contacto direto com os acervos materiais como base para a construção de propostas críticas, explorando a hipótese da existência de tradições de escrita que incluam também a crítica. Propomos uma ideia de literatura que inclui outras formas de produção intelectual (historiografia, etnografia), muitas vezes mais comuns em pequenos meios, e que propicia melhores resultados do que a busca exclusiva pelas formas típicas da escrita criativa.

Esta questão raras vezes foi colocada, já que os estudos portugueses estão enraizados numa visão profundamente nacionalista do mapa de língua PT como sendo um conjunto de 8 nações. Este projeto pretende, assim, superar a visão nacionalista e centrada na língua como critério-chave para a definir.

Tem se preferido pensar na produção dos espaços asiáticos ou de forma independente (literatura de Macau, literatura goesa); outros estão ainda numa fase de identificação (Timor, Malaca) e outros ainda não são encarados nesta perspetiva (Moçambique), ainda que pertencentes também a uma plataforma (afro)asiática de circulação de bens materiais e simbólicos. Deste modo PORT ASIA constitui uma fase prévia de investigação sobre a possibilidade de existência autónoma das literaturas da Ásia em PT.

Antes de pensar na criação de uma nova disciplina dentro dos estudos portugueses, o que aqui propomos é um comparatismo entre territórios insulares (uma metáfora da sua natureza dispersa), aos quais não pretendemos conferir uma unidade maior do que a sua inscrição num contexto (afro)asiático. Com efeito, traz-se uma leitura asiocêntrica na qual a língua PT não necessariamente garante sentidos unificadores para esta produção. Assim, o projeto parte dos instrumentos conceptuais e metodológicos dos Estudos Comparados, numa forte ótica interdisciplinar, trabalhando para a exploração de um campo de conhecimento novo e localizado.

PORTASIA está diretamente ligado às principais áreas de investigação desenvolvidas pelo IR, também se baseando em trabalhos anteriores realizados pelo grupo Orientalismo PT no CEC-UL, que já acolheu outros projetos financiados pela FCT, nomeadamente o TECOP, sob a supervisão do Co-IR. Ambos possuem uma experiência significativa em projetos de investigação semelhantes (Fapesp), e na supervisão de projetos financiados (Gulbenkian). Todos os membros da equipa têm experiência arquivística; a sua investigação preliminar demonstrou que o material visado é quantificável dentro do prazo e que os arquivos selecionados são um ponto de partida apropriado.

O objetivo final é a criação de um catálogo, apoiado por um sítio web, que sirvam como importante ferramenta de trabalho bem como bibliografia fundamental dessa produção, permitindo a análise comparada. O catálogo/website constituirão uma recolha coerente de referências, congregando a localização material de espólios de modo a permitir o estudo em conjunto destes materiais dispersos.

Esta plataforma é financiada por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto EXPL/LLT-LES/1191/2021.

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